Arquivo | maio, 2018

Enfim, fui expulso do SPL

7 maio

Julio Mangini Fernandes – Seção Brasília

Uma das grandes virtudes que o SPL – Sinasefe para Lutar – tinha, ao meu ver, era a bandeira da defesa de princípios. Quais? Independência de partidos, defesa de carreira TAE e docente, isonomia, carreira única da educação, contra o racismo e machismo, formação política e respeito às bases. Tais pilares foram substanciais para eu acreditar que deveria estar presente e percebia que havia pessoas que tinham mais ou menos a mesma ideia sobre movimento dos trabalhadores.

Foi um coletivo que eu ajudei a construir, em um período não muito longo, porém decisivo à classe trabalhadora, pelo menos nos dois últimos tumultuados e tristes anos do nosso sindicato. Tumultuados, sobretudo pelo ataque feroz da direita, da burguesia, da elite, que deseja sucatear e destruir o serviço público e a educação desse país, com a emenda 95, com a reforma do ensino médio, o conluio das reitorias pro-tempore ad eternum, o assédio moral, o ponto eletrônico, que cerceia a vida das servidoras e servidores. E triste, porque justamente no momento de ataque mais feroz à carreira PCCTAE e EBTT, tivemos uma Direção Nacional acovardada, que não mobilizou a base, que se recusou em falar em golpe, que demorou pra construir greve, sob falso pretexto de isolamento, que nada mais foi e continua sendo de que qualquer movimento dos trabalhadores nessas circunstâncias pudesse significar concordância com o governo deposto da Dilma e capital político ao PT. Ledo engano.

Para piorar, o SPL sofreu com a falta de formação política e a burocratização extrema, presentes sobretudo nas consultas deliberativas via e-mail da DN durante esse tempo, que resultou na condenação de duas pessoas em penas jamais vistas no nosso sindicato: uma por machismo (ou falta de urbanidade), e outra por assédio moral ao jornalista do Sinasefe. Infelizmente a punição não parece ser pedagógica, com algum curso sobre machismo aos que foram condenados. O que deveria servir para reflexão sobre os rumos que o coletivo e sindicato estão assumindo, da autocrítica, a respeito da perda dos rumos que a classe trabalhadora tem tido, não só no sinasefe, mas em boa parte dos sindicatos, virou rancor, virou sentimento de vingança. Ao ponto que qualquer leitura feita por alguém que estivesse envolvido nas comissões, sobretudo de outros coletivos e, PRINCIPALMENTE sendo mulher, foi desmerecida e descartada, com adjetivações do tipo “essa pessoa é oportunista, falsa, bandida”.

Afinal, SPL, onde está o seminário contra opressões? Contra o machismo? Contra o assédio moral, tão presente no nosso cotidiano, sofrido pelos servidores dos Institutos Federais, por diretores e gestores truculentos e autoritários? Nada disso foi levado adiante. O que se buscou, apenas, foi a redução da pauta, nesse consinasefe, com meras intenções eleitorais. Logicamente que essa prática foi adotada por todos os coletivos, que rifaram qualquer discussão mais aprofundada sobre conjuntura e rumos da classe trabalhadora em prol da fatia que iria tomar da Direção Nacional. Nesse caso, o que bastou foi a contagem de votos, quem tivesse mais, levava.

No seminário que o SPL organizou em janeiro, em Porto Alegre, pelo menos duas decisões foram tomadas. Uma, em defesa da democracia, contra a farsa Jato e Lula Livre, e outra, através de uma nota, em defesa da decisão da maioria da base, sobretudo na eleição que estava judicializada pela chapa perdedora, em Mato Grosso. Essa chapa inclusive tentou negociar com as demais concorrentes a proporcionalidade na gestão 2018, com intuito de encerrar o debate, mesmo que isso não esteja previsto no regimento do sindicato da seção Cuiabá. Até hoje a chapa vencedora não assumiu e bem provável que haverá outra eleição, após muito desgaste e afastamento da base que já não tem muito mais ânimo para com o sindicato. Ou seja, a burocracia reina mais uma vez. No entanto, na redução da pauta política com viés eleitoral, o SPL optou em angariar votos para derrotar o projeto conlutista sectário, que muitos outros também sei que desejam (alô conlutas, desfiliação é logo ali) mas abrindo mão de princípios tão valiosos e que custam uma carreira. Se uniu a outras velhas raposas, lá de Mato Grosso para ter, mais uma vez, mais votos.

Me indispus com os figurões desse coletivo. Os velhos já conhecidos de muitos. Os mesmos que não estão afim de discutir machismo e misoginia. Fui chamado de merda e moleque, e infelizmente não recebi até agora nenhuma voz de ninguém desse coletivo, exceto de Carlos Magno, por quem tenho respeito, todavia,o que predomina mesmo é o silêncio e a norma regente do cumpra-se. Talvez alguém mais fale algo depois disso, ou não.

Doravante, sugiro que todas e todos aqueles que perceberem que seus respectivos coletivos são apenas correia de transmissão de partidos ou de centralização de fulano ou beltrano, que se rebelem. Não se calem, sobretudo as mulheres. Exigem respeito e lutem pela paridade, mas acima de tudo, que não permita se tornar combustível nessa disputa fratricida que assola muitos coletivos desse Sinasefe. Nos reinventemos com novas práticas, contra o machismo, contra o racismo, contra a homofobia, em defesa da classe trabalhadora, por autonomia das bases! Porque senão… estamos fadados a capitulação e ao fracasso.